COMÉRCIO E USO DE PLANTAS E ANIMAIS DE IMPORTÂNCIA MÁGICO-RELIGIOSA E MEDICINAL NO MERCADO PÚBLICO DO GUAMÁ, BELÉM DO PARÁ / TRADE AND USE OF PLANTS AND ANIMALS OF IMPORTANCE MAGICAL/RELIGIOUS AND MEDICINAL IN MARKET OF GUAMÁ, CITY OF BELÉM, STATE OF PARÁ

Bruna Letícia Gentil Bitencourt, Pedro Glécio Costa Lima, Flávio Bezerra Barros

Resumo


O estudo objetivou saber quais são os usos feitos de plantas e animais medicinais e mágico-religiosos e como ocorre a comercialização desses no Mercado Público do Guamá, Belém do Pará. Para tanto foi feita pesquisa de campo onde foram aplicadas entrevistas com os interlocutores, turnê-guiada e coletas e fotografias de material para possíveis identificações. Com isso obteve-se uma lista com 180 etnoespécies de plantas, contidas em 68 famílias taxonômicas (sendo Asteraceae, Fabaceae e Laminaceae as mais representativas, respectivamente) e outra lista com 14 etnoespécies de animais, incluídas em cinco categorias taxonômicas (mamíferos, répteis, aves, peixes e equinodermas), além de informações de como se dão suas comercializações. Percebeu-se que tal Mercado Público possui riqueza de biodiversidade, principalmente de plantas, e consequentemente riqueza de conhecimentos etnobiológicos e possui um esquema de distribuição comercial complexo, com atuação de diversos atores.

 

Palavras-chave: Etnobotânica. Etnozoologia. Mercados. Belém. Amazônia.

 

 

ABSTRACT

 

The study aimed to find out what are the uses made of medicinal and magical-religious plants and animals and the marketing of these occurs in the Public Market Guamá, Belém do Pará. For this field research interviews with interlocutors were applied was, as “walk-in-the-wood” was applied and collections and photographs of material were made for possible identifications. Thus we obtained a list of 180 ethnospecies plants, contained in 68 taxonomic families (Asteraceae, Fabaceae and Laminaceae the most representative, respectively) and another list with 14 ethnospecies of animals, including five taxonomic categories (mammals, reptiles, birds, fish and echinoderms), beyond information on how to give their trades. It was realized that such Public Market has rich biodiversity, especially of species of plants, and consequently Ethnobiological wealth of knowledge and has a complex schema of commercial distribution, with involvement of several actors.

 

Keywords: Ethnobotany. Ethnozoology. Markets. Belém. Amazonia.

 


Texto completo:

PDF

Referências


ALBUQUERQUE, U.P. et al. A pesquisa etnobiológica em mercados e feiras livres. In: Albuquerque, U. P.; Lucena, R. F. P.; Cunha, L. V. F. C. C. (Orgs.) 2010. Métodos e Técnicas na Pesquisa Etnobiológica e Etnoecológica. Recife: Comunigraf/Nupeea, p. 209-222. 2010a.

ALBUQUERQUE, U.P. et al. Métodos e técnicas para coleta de dados etnobiológicos. In: Albuquerque, U. P.; Lucena, R. F. P.; Cunha, L. V. F. C. C. (Orgs.) 2010. Métodos e Técnicas na Pesquisa Etnobiológica e Etnoecológica. Recife: Comunigraf/Nupeea, p. 41-64. 2010b.

ALCORN, J. B. The scope and aims of ethnobotany in a developing world. In: R. E. Schultes & S. V. Reis (eds.). Ethnobotany: evolution of a discipline. Cambridge, Timber Press, pp. 23-29. 1995.

ALEXIADES, M.N. 2004. Apresentação. In: Albuquerque, U.P., Lucena, R.F.P. (Org.). Métodos e técnicas na pesquisa etnobotânica. Recife: LivroRápido, Nupeea. 2004.

ALVES, R.R.N., ALVES, H.N. The faunal drugstore: Animal-based remedies used in traditional medicines in Latin America. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, 2011, 7.9: 1-43. 2011.

ALVES, R.R.N et al. An ethnozoological survey of medicinal animals commercialized in the markets of Campina Grande, NE Brazil. Human Ecology Review, 17(1). 2010b.

ALVES, R.R.N et al. The role of animal-derived remedies as complementary medicine in Brazil. BioScience, 57(11), 949-955. 2007.

ALVES, R.R.N et al. Aspectos sócio-econômicos do comércio de plantas e animais medicinais em área metropolitanas do Norte e Nordeste do Brasil. Revista de Biologia e Ciências da Terra, 8(1), 181-189. 2008.

ALVES, R.R.N et al. Traditional uses and conservation of dolphins in Brazil. In: Agustin G.P. & Correa L.M. (Eds.) 2010. Dolphins: Anatomy, Behavior and Threats. New York, Nova Science Publishers, Inc., p. 1-14. 2010a.

ALVES, R.R.N. et al. Animals for the gods: magical and religious faunal use and trade in Brazil. Human Ecology, v. 40, n. 5, p. 751-780. 2012.

ALVES, R.R.N. & ROSA I.L. From cnidarians to mammals: The use of animals as remedies in fishing communities in NE Brazil. Journal of Ethnopharmacology, 107:259-276. 2006

ALVES, R.R.N & ROSA, .IL. Zootherapy goes to town: The use of animal-basedremedies in urban areas of NE and N Brazil. Journal of Ethnopharmacology, 113:541-555. 2007.

ALVES, R.R.N & ROSA, I.L. Use of Tucuxi Dolphin Sotalia fluviatilis for medicinal and magic/religious purposes in North of Brazil. Human Ecology, 36(3), 443-447. 2008.

ALVES, R.R.N. & SOUTO, W.M.S. Ethnozoology in Brazil: current status and perspectives. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, 7: 22. 2011.

AMOROZO, M.C.M. & GÉLY A. Uso de plantas medicinais por caboclos do baixo Amazonas Barcarena, PA, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Nova Série, Belém, v. 4, n. 1, p. 47-131. 1988.

AZEVEDO, P.A. & BARROS, F. B. Comida, remédio, renda: conhecimentos e usos da mucura (Didelphis marsupialis) por comunidades ribeirinhas da Várzea Amazônica. Amazônica: Revista de Antropologia, 5 (3) – especial: 862-878, 2013.

AZEVEDO, S.K.S & SILVA, I.M. Plantas medicinais e de uso religioso comercializadas em mercados e feiras livres no Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Acta Botanica Brasilica 20(1): 185-194. 2006.

BALICK, M.J & COX P.A. Plants, people and culture: the science of ethnobotany. Scientific American Library, 1996.

BARBOSA, J.A.A. & AGUIAR J.O. Utilização místico-tradicional da fauna no semiárido paraibano. Polêm!ca, 11(4), 642-a. 2012.

BARROS F. B. et al. Medicinal use of fauna by a traditional community in the Brazilian Amazonia. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, 8:37. 2011.

BERG, M.E. Ver-o-Peso: The ethnobotany of an Amazonian market. Advances in Economic Botany, New York, 1: 140-149. 1984.

BERG, M.E.; SILVA, M.H.L. Ethnobotany of a traditional ablution in Pará, Brazil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, série Bot., v. 2, n. 2, p. 213-218. Jun. 1986.

BRANCH, L.C & SILVA, M.F. Folk medicine of Alter do Chão, Pará, Brazil. Acta Amazonica, 13(5-6): 737-797. 1983.

BRASIL. Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. A lei da natureza: Lei de crimes ambientais. IBAMA - Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. Brasília: IBAMA, 1998.

BRASIL. Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Ministério da Saúde. Brasília, 2007.

CBRO. Lista das aves do Brasil. 6ª edição (16 de agosto de 2007). Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos, Sociedade Brasileira de Ornitologia. 2007. Disponível em: http://www.cbro.org.br. Acessado:11/06/2014.

COELHO-FERREIRA, M. Le marché des plantes medicinales à Manaus. In: Emperaire, L. (Org.). La forêt in jeux: l'extrativisme en Amazonie Centrale. vol. 1. , Pp.173-175. Paris, ORSTOM/UNESCO. 1996.

Costa-Neto, E.M. et al. A zooterapia popular no Estado da Bahia: registro de novas espécies animais utilizadas como recursos medicinais. Revista Ciência & Saúde Coletiva, 16. 2011.

DIAS, R.M. Em águas e lendas da Amazônia: os outros brasis de Waldemar Henrique e Mário de Andrade (1922-1937). Dissertação (Mestrado em História)-Universidade Federal do Pará, Belém, 2009. Disponível em:< http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/4388>. Acessado em: 10 Jun. 2014.

DIEGUES, A.C. Saber tradicional, ciência e biodiversidade. In: Diegues, A. C. (Org.). Os saberes tradicionais e a biodiversidade no Brasil. São Paulo: MMA/COBIO/NUPAUB/USP. 2000.

FERREIRA, F.S. et al. Animal-based folk remedies sold in public markets in Crato and Juazeiro do Norte, Ceara, Brazil. BMC Complementary and Alternative Medicine, 9(1), 17. 2009a.

FERREIRA, F.S. et al. Zootherapeutics utilized by residents of the community Poço Dantas, Crato-CE, Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, 5(1), 1-10, 2009b.

FIGUEIREDO, N. Os bichos que curam: os animais e a medicina de “folk” em Belém do Pará. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi – Ciências Humanas, pp. 75-91, 1994.

FRAXE, T. J. Cultura cabocla-ribeirinha: mitos, lendas e transculturalidade. Annablume. 2004.

HUNTIGTON, H.P. Using Traditional Ecological Knowledge in Science: Methods and Applications. Ecological Applications, 10(5), pp. 1270-1274, 2000.

JAIN, S. K. Human aspects of plants diversity. Economic Botany 54(4): 459-470. 2000.

LIMA, M.R. & SANTOS, M.R.A. Aspectos etnobotânicos da medicina popular no município de Buritis, Rondônia. Embrapa Rondônia-Artigo em periódico indexado (ALICE). 2006.

LIMA, P. G. C., COELHO-FERREIRA, M., & OLIVEIRA, R. Plantas medicinais em feiras e mercados públicos do Distrito Florestal Sustentável da BR-163, Estado do Pará, Brasil. Acta Botanica Brasilica. Brasília, 25(2). 2011.

LORENZI, H. & MATOS, F. J. A. Plantas Medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum. 2008.

LUZ F.J.F. Plantas medicinais de uso popular em Boa Vista, Roraima, Brasil. Horticultura Brasileira, 19(1), 88-96. 2001.

MARTINS, A. G.et al. Levantamento etnobotânico de plantas medicinais, alimentares e tóxicas da Ilha do Combu, Município de Belém, Estado do Pará, Brasil. Revista Brasileira de Farmacologia, 86(1), 21-30. 2005.

MEDEIROS, P.M. et al. Uso de estímulos visuais na pesquisa etnobiológica. In: In: Albuquerque, U. P.; Lucena, R. F. P.; Cunha, L. V. F. C. C. (Orgs.) 2010. Métodos e Técnicas na Pesquisa Etnobiológica e Etnoecológica. Recife: Comunigraf/Nupeea, p. 151-169. 2010.

MOHAMAD, S. The ethnobotany of the Semelai community at Tasek Bera, Pahang, Malaysia: an ethnographic approach for re-settlement. Thesis (Doctor of Philosophy). The University of Adelaide, Australia, 2010.

MONROY-VILCHIS, O. et al. "Uso tradicional de vertebrados silvestres en la Sierra Nanchititla, México". Interciencia. Vol. 33, n. 4 (abr. 2008), pp. 308-313. 2008.

MOURA, F.B.P. & MARQUES, J.G.W. Zooterapia popular na Chapada Diamantina: uma medicina incidental? Ciência e Saúde Coletiva [online]. vol.13, suppl.2, pp. 2179-2188. 2008.

NGUYEN, M.L.T. Cultivated plants collections from markets places. Ethnobotany Research & Applicatins, 3: 5-15. 2005.

PARENTE, C. E. T. & ROSA, M. M. T. Plantas comercializadas como medicinais no Município de Barra do Piraí, RJ. Rodriguésia, v. 52, n. 80, p. 47-59, 2001.

PATZLAFF, R.G & PEIXOTO, A.L. A pesquisa em etnobotânica e o retorno do conhecimento sistematizado à comunidade: um assunto complexo. História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Rio de Janeiro, v.16, n.1, p. 237-246. 2009.

PINTO, A.A & MADURO, C.B. Produtos e subprodutos da medicina popular comercializadas na cidade de Boa Vista, Roraima. Acta Amazônica, 33(2), 281-290. 2003.

PINTO, E. D. P. P., AMOROZO, M. C. D. M., & Furlan, A. Conhecimento popular sobre plantas medicinais em comunidades rurais de mata atlântica–Itacaré, BA, Brasil. Acta Botanica Brasilica, 20(4), 751-762. 2006.

POLOCARPO, I.D.S. Uso de aves silvestres no Brasil: aspectos etnozoológicos e conservação. Graduação (Ciências Biológicas) - Universidade Estadual da Paraíba, Campo Grande, 2013. Disponível em:< http://dspace.bc.uepb.edu.br:8080/xmlui/handle/123456789/2749>. Acessado em: 11 Jun. 2014.

POSEY, D.A. Introdução-etnobiologia: teoria e prática. In: Ribeiro, B. G. (Coord.). In: Suma Etnológica Brasileira: volume I Etnobiologia. Belém: Editora Universitária UFPA, p. 1-15. 1997

POVH, J. A. & ALVES, G. S. P. Estudo etnobotânico de plantas medicinais na comunidade de Santa Rita, Ituiutaba–MG. Biotemas, v. 26, n. 3, p. 231-242, 2013.

RAMOS, M.A et al.. O comércio das plantas medicinais em mercados públicos e feiras livres: um estudo de caso. In: Albuquerque U.P.; Almeida C.F.C.B.R; Martins J.F.A. (Orgs.). Tópicos em conservação, etnobotânica e etnofarmacologia de plantas medicinais e mágicas. Recife, NUPEEA, p. 127-164. 2005

ROSKOV Y. et al. (eds.). Species 2000 & ITIS Catalogue of Life, 2014 Annual Checklist. Species 2000: Naturalis, Leiden, the Netherlands. 2014. Disponível em:. Acessado em: 11/06/2014.

ROTTA et al. Manual de Prática de Coleta e Herborização de Material Botânico. Colombo/PR : Embrapa Florestas. 2008.

SANTOS, L.L. et al. Técnicas para coleta e processamento de material botânico e suas aplicações na pesquisa etnobotânica. In: In: Albuquerque, U. P.; Lucena, R. F. P.; Cunha, L. V. F. C. C. (Orgs.) 2010. Métodos e Técnicas na Pesquisa Etnobiológica e Etnoecológica. Recife: Comunigraf/Nupeea, p. 277-295. 2010.

SANTOS, M.A.C. Levantamento de Espécies Vegetais Úteis das Áreas Sucuriju e Região dos Lagos, no Amapá. Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá. 2006.

SILVA, N. et al. Conhecimento e Uso da Vegetação Nativa da Caatinga em uma Comunidade Rural da Paraíba, Nordeste do Brasil. Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão, (34): 5-37. 2014.

SILVA, D.D.C. S & FRANÇA, E.C.O. Plantas que curam: eficácia simbólica na religiosidade popular. Anais dos Simpósios da ABHR, 13. 2012.

SOCORRO, M. Lendas e mitos da Amazônia. Revista Litteris Literatura, (5). 2010.

SOUTO, F.J.B. A imagem que fala. O uso da fotografia em trabalhos etnoecológicos. In: In: Albuquerque, U. P.; Lucena, R. F. P.; Cunha, L. V. F. C. C. (Orgs.) 2010. Métodos e Técnicas na Pesquisa Etnobiológica e Etnoecológica. Recife: Comunigraf/Nupeea, p. 171-185. 2010.

TOLEDO, V. M. & BARRERA-BASSOLS, N. A etnoecologia: uma ciência pós-normal que estuda as sabedorias tradicionais. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 20: 31-45. 2009.

World Health Organization (2003)- ---World Health Organization (WHO). Traditional medicine. Fact sheet [online], n. 134, revised may 2003. Disponível em . Acessado em: 11 agos. 2013.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Ficheiro:Cc-by-nc-nd icon.svg

Atribuição (BY): Os licenciados têm o direito de copiar, distribuir, exibir e executar a obra e fazer trabalhos derivados dela, conquanto que deem créditos devidos ao autor ou licenciador, na maneira especificada por estes.
Não Comercial (NC): Os licenciados podem copiar, distribuir, exibir e executar a obra e fazer trabalhos derivados dela, desde que sejam para fins não-comerciais
Sem Derivações (ND): Os licenciados podem copiar, distribuir, exibir e executar apenas cópias exatas da obra, não podendo criar derivações da mesma.

 


ISSN 1806-6356 (Impresso) e 2317-2983 (Eletrônico)