Decolonialidade do Corpo e (Re)Significação do eu na Poética Nava: Performatividade, Metamorfose(S), Silêncio / Body Decoloniality and the Self (Re)Signification Through Nava’s Poetics: Performativeness, Metamorphosis(Es), Silence

Horácio dos Santos Ribeiro Pires, Tatiana Pequeno da Silva

Abstract


O objetivo do presente trabalho é discutir e problematizar as questões da decolonialidade do corpo e a (re)significação do Eu na poética de André Tecedeiro e Luis Miguel Nava, a partir de um recorte que leva em consideração a performatividade do sujeito, suas constantes metamorfoses e o papel do silêncio para quem (se) transforma em tantas coisas. Essa multiplicidade do Eu, que se constrói por metamorfoses internas e externas, revela a beleza que se encontra no avesso e que, na poesia, se manifesta através de fragmentos que se tornam mapas possíveis de autocompreensão. Para tanto, serão utilizados pressupostos teóricos que (re)pensam as concepções dos discursos pós-modernos, como gênero, sexualidade e identidade, além da noção biologizante que patologiza as identidades trans, através das contribuições de teóricos como Judith Butler, Gayatri Spivak, Stuart Hall, Meijer e Prins, Paul B. Preciado, Aníbal Quijano, dentre outros. Dessa maneira, o corpo decolonizado, atravessado pela linguagem poética e personificado nos poemas, produz sentidos em um determinado contexto, que não correspondem àqueles estabilizados, sincretizados ou petrificados pela sociedade cisnormativa. Através dessa análise, busca-se apontar para uma emancipação de corpos e subjetividades, mostrando como a poesia pode servir como um meio de resistência e reconfiguração do Eu. A obra de Tecedeiro e Nava, com sua riqueza de imagens e transformações, permite uma leitura que desafia as normatividades impostas, sugerindo novas formas de existir e de ser no mundo. Assim, o trabalho pretende contribuir para o debate sobre a decolonialidade do corpo e a importância da poesia como espaço de resistência e reconfiguração identitária.

 

Palavras-chave: Corpo. Performatividade. Metamorfose(s). Decolonialidade.

 

ABSTRACT

This paper aims to discuss and problematize the issues the body decoloniality and the Self (re)signification in André Tecedeiro’s and Luis Miguel Nava’s poetry, from a perspective that takes into account the subject performativity, its constant metamorphoses, and the role of silence for those who transform themselves into so many things. This multiplicity of the Self, which is constructed through internal and external metamorphoses reveals the beauty that lies in the reverse and that, in poetry, manifests itself through fragments that become possible maps of self-understanding. To this end, theoretical assumptions will be used to (re)think the conceptions of postmodern discourses, such as gender, sexuality, and identity, in addition to the biologizing notion that pathologizes trans identities, through the contributions of theorists such as Judith Butler, Gayatri Spivak, Stuart Hall, Meijer and Prins, Paul B. Preciado, Aníbal Quijano, among others. In this way, the decolonized body, permeated by poetic language and personified in poems, produces meanings in a given context that do not correspond to those stabilized, syncretized or petrified by cisnormative society. Through this analysis, we seek to point to an emancipation of bodies and subjectivities, showing how poetry can serve as a means of resistance and reconfiguration of the Self. The work of Tecedeiro and Nava, with its wealth of images and transformations, allows for a reading that challenges imposed normativities, suggesting new ways of existing and being in the world. Thus, this work aims to contribute to the body decoloniality debate and the importance of poetry as a space for resistance and identity reconfiguration.

 

Key-words: Body. Performativeness. Metamorphosis(es). Decoloniality.

 


References


BOUCIER, Sam. Queer Zones (vol. 1). Trad. Henrique Provinzano Amaral, Thiago Mattos. São Paulo: Crocodilo.

BUTLER, Judith P. Bodies that Matter: The Discursive Limits of Sex. New York: Routledge, 1993. [Ed. bras.: Corpos que importam: Os limites discursivos do sexo. São Paulo: n-I edições/Crocodilo, 2019.]

BUTLER, Judith P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. [Trad.] Renato Aguiar. 22ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2022.

COLLOT, Michel. A matéria-emoção. Trad. Patrícia Souza Silva. 1 ed. Rio de Janeiro: Oficina Raquel, 2018.

DESCARTES, René. Discours de la méthode. Paris: Léopold Cerf, Imprimeur-Éditeur, 1902.

LAQUEUR, Thomas. Making sex. Body and gender from geeks to Freud. Cambridge e Londres: Harvard University Press, 1990.

LOURO, Guacira Lopes. Um corpo estranho. 3. ed. rev. amp.; 4. reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2022.

NAVA, Luis Miguel. Poesia completa – 1979-1994. 1ª ed. Lisboa, PT: Publicações Dom Quixote, 2002.

PEREIRA Edgard. Portugal: poetas do fim do milênio. 1ª ed. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1999.

PRECIADO, Paul B. Manifesto contrassexual: Práticas subversivas de identidade sexual. [Trad.] Maria Paula Gurgel Ribeiro. 1ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2022.

PRINS, Baukje; MEIJER, Irene. Como os corpos se tornam matéria: entrevista com Judith Butler. Trad. Susana Bornéo Funck. Revista Estudos Feministas, v.10, n. 1, 2002. p.155-167.

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Trad. Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa, André Pereira Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

TECEDEIRO, André. A axila de Egon Schiele: Poesia reunida 2014-2020. Juiz de Fora, MG: Edições Macondo, 2021.




DOI: http://dx.doi.org/10.12819/2025.22.1.8

Refbacks

  • There are currently no refbacks.


Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.

ISSN 1806-6356 (Print) and 2317-2983 (Electronic)