Relações Sociais em Organizações Familiares: Uma Análise Teórica e Comparativa / Social Relationships in Family Organizations: A Comparative Theoretical Analysis
Resumen
As empresas familiares podem ser consideradas organizações singulares pela manifestação de duas lógicas distintas em seu ambiente: de um lado a lógica familiar, que preza pelo bem comum dos membros, e, de outro, a lógica empresarial, que visa à racionalização e à obtenção de lucros. As pesquisas sobre este tema indicam que os indivíduos dessas organizações estão sujeitos a terem a sua subjetividade sequestrada, fato ocasionado pela vivência entre o campo do trabalho e da família, o que leva, de certa forma, à incapacidade de se separar atitudes provindas dos dois campos, não havendo uma divisão clara pelo indivíduo. Nesse sentido, a teoria da ação nos permitiu compreender as organizações como campo social, levando-se em consideração os conceitos de capital, habitus e de illusio. Este artigo teórico teve como objetivo discutir comparativamente os fundamentos da teoria da ação bourdieusiana e os princípios analíticos do sequestro da subjetividade de Faria e Meneghetti (2007), destacando a possibilidade de aplicá-los na pesquisa sobre organizações familiares. Espera-se que este artigo contribua para a compreensão das organizações familiares como um campo social que possibilita a constituição de um sujeito que tenha consciência de suas escolhas e saiba lidar com os jogos de poder no espaço organizacional.
Palavras-chave: Organizações Familiares. Sequestro da Subjetividade. Teoria da Ação. Bourdieu. Estudos Organizacionais.
ABSTRACT
Family businesses can be considered unique organizations due to the manifestation of two distinct logics in their environment: on the one hand, the family logic, which values the common good of the members, and on the other, the business logic, which aims at rationalization and obtaining profits. Research on this topic indicates that individuals in these organizations are subject to having their subjectivity hijacked, caused by the experience between the field of work and family, which leads, in a way, to the inability to separate attitudes from the two fields, with no clear division by the individual. The theory of action allowed us to understand organizations as a social field, taking into account the concepts of capital, habitus and illusio. This theoretical article aimed to comparatively discuss the foundations of the Bourdieusian theory of action and the analytical principles of the kidnapping of subjectivity by Faria and Meneghetti (2007), highlighting the possibility of applying them in research on family organizations. This article contributes to the understanding of family organizations as a social field that enables the constitution of a subject who is aware of their choices and knows how to deal with power games in the organizational space.
Keywords: Family Businesses. Kidnapping of Subjectivity. Theory of Action. Bourdieu. Organizational Studies.
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DOI: http://dx.doi.org/10.12819/2024.21.10.10
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