Percepção de Acadêmicos de Enfermagem Sobre a Violência Obstétrica / Perception of Nursing Academics on Obstetric Violence

Fabyanna Lucena Costa, Hiêda Maria Porto Cintra, Francisco Honeidy Carvalho Azevedo

Resumo


O parto é um momento ímpar na vida de uma mulher, dependendo de como ela está em seu estado físico e psicológico. A violência contra a mulher apresenta-se em distintas expressões e uma delas tem sido muito presente e não identificada: a violência obstétrica, que se caracteriza também pela imposição de intervenções danosas à integridade física e emocional das mulheres nas instituições em que são atendidas, bem como o desrespeito à sua autonomia que ocorre quando o profissional impõe o uso de medicações para acelerar o processo de expulsão do feto. A violência obstétrica pode ocorrer antes, durante ou depois do parto. O estudo tem como objetivo investigar o conhecimento dos acadêmicos de enfermagem sobre a violência obstétrica e os meios para combatê-la, visando responder ao seguinte problema: Qual o conhecimento dos acadêmicos de enfermagem sobre a violência obstétrica e os meios para combatê-la? Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, com abordagem qualitativa. Para instrumentalização da produção de dados foram realizadas 20 entrevistas no período de março de 2017, com acadêmicos de enfermagem de uma Instituição de Ensino Superior privada, localizada na zona sul da cidade de Teresina – PI, por meio de roteiro de entrevista semiestruturado, em que os depoimentos foram gravados através do celular (com o consentimento dos participantes) e transcritos na íntegra, com a finalidade de reproduzir, de maneira fidedigna, suas falas durante o diálogo. A análise de dados seguiu a proposta por Minayo (2014). Após avaliação cuidadosa, os dados foram agrupados em três categorias: conhecimento dos acadêmicos de enfermagem sobre a violência obstétrica; as formas de violência obstétrica conhecidas pelos participantes e; combate à violência obstétrica sob a ótica dos acadêmicos de enfermagem. Os participantes souberam como caracterizar uma violência obstétrica tanto na teoria quanto na prática, além de perceber e identificar quando algum episódio é caracterizado como violência. Para eles, sofrer uma violência obstétrica causa transtornos para as mulheres, gerando sofrimento e a perda do desejo de viver uma nova gestação. A forma de violência obstétrica com maior grau de conhecimento foi a violência psicológica, seguida de manobras sobre o abdômen da mulher, impedimento da entrada de acompanhante, episiotomia de rotina, ocitocina e rompimento da bolsa amniótica. Eles também relataram outras formas de violência como gravação de partos sem o consentimento das mulheres, toques vaginais constantes, falta de informação e negligência. Dentre os meios para combater a violência obstétrica destacaram-se humanizar a assistência e informar às mulheres sobre os seus direitos. Através do estudo foi possível observar que o conhecimento dos acadêmicos sobre a violência obstétrica é satisfatório, a ponto de lhes oferecer meios para combatê-la. Portanto, faz-se necessário dar continuidade a estudos que investiguem a percepção de acadêmicos sobre a violência obstétrica em outras áreas da saúde que atuam no momento do trabalho de parto, servindo como incentivo ao aprimoramento dos conhecimentos a respeito desta violência.

 

Palavras chave: Violência contra a Mulher. Enfermagem em Saúde Comunitária. Ética em Enfermagem

 

 

ABSTRACT

 

Labor is an im moment in a woman's life and it depends on how she is in her physical and psychological state. Violence against women presents itself in different expressions and one of them has been very present and unidentified: obstetric violence, which is also characterized by the imposition of harmful interventions on the physical and emotional integrity of women in the institutions where they are attended, as well as Like the disrespect to their autonomy that occurs when the professional imposes the use of medications to accelerate the process of expulsion of the fetus. Obstetric violence may occur before, during, or after labor. The study purpose is to investigate the knowledge of nursing academics about the obstetric violence and the means to fight it, aiming to respond the following problem: Which is the knowledge of nursing academics about the obstetric violence and the means to fight it? It is a descriptive study, exploratory, with qualitative approach. For the instrumentation of data production, 20 interviews were performed in the period of March 2017, with nursing academics of a Private Institution of Higher Education, located in the southern part of Teresina City – PI, through a semi structured interview script, in which the testimonials was recording by mobile (with the consent of the participants) and transcribed on entirety in order to reproduce in a reliable way their speech during the dialog. The data analysis follow the Minayo’s purpose (2014). After careful evaluation, the data were grouped in three categories: The knowledge of nursing academics about the obstetric violence; The forms of obstetric violence known by the participants and; The combat against obstetric violence under the vision of nursing academics. The participants knew how to characterize an obstetric violence in both theory and practice, besides to realize and to identify when some episode is characterized as violence. For them, to suffer an obstetric violence cause disorders for the women, generating suffering and the loss of desire to live a new gestation. The means of obstetric violence with a higher degree of knowledge was the psychological violence, followed by maneuvers on the woman's abdomen, the obstruction of the accompanying person, the routine episiotomy, the oxytocin and the amniotic pouch rupture. They also reported other forms of violence like birth recording without the consent of women, constant vaginal touches, lack of information and negligence. Among the means to combat the obstetric violence, to humanize the assistance and informing women about their rights were highlighted. Through the study it was possible to observe that the academics’ knowledge about the obstetric violence is satisfactory in point to offer them means to combat it. So, it’s necessary to give continuity in studies that investigate the perception of academics about the obstetric violence in other health areas that act at the moment of the parturition, serving as incentive to the knowledge enhancement about this violence.

 

Keywords: Violence against Women. Nursing in Community Health. Ethics in Nursing.

Palavras-chave


Violência contra a mulher; Enfermagem em saúde comunitária; Ética em enfermagem

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DOI: http://dx.doi.org/10.12819/rsf.2017.4.2.5

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Revista Saúde em Foco N° 1/2014