Análise Temporal de Leishmaniose Visceral em Teresina, Piauí: Uma Abordagem Integrativa Entre Dados Humanos, Caninos e Vetoriais / Temporal Analysis of Visceral Leishmaniasis in Teresina, Piauí: An Integrative Approach Between Human, Canine and Vector Dat

Letícia Gomes Ferreira, Pedro Lucas de Sousa Vale Cabral, Elís Rosélia Dutra de Freitas Siqueira Silva

Resumo


Objetivo: Analisar a dinâmica temporal da leishmaniose visceral em Teresina, correlacionando dados de casos humanos, soropositividade canina e densidade vetorial entre 2014 e 2023, identificando padrões sazonais, correlações temporais e fatores associados à transmissão da doença. Método: Estudo ecológico de séries temporais, com abordagem quantitativa, analisando retrospectivamente registros de leishmaniose visceral em humanos (n=435) obtidos do SINAN, dados de inquéritos sorológicos caninos (n=314.844 testes) da Gerência de Zoonoses e registros entomológicos do vetor Lutzomyia longipalpis (n=4.860 espécimes). Foram empregadas análises estatísticas descritivas, temporais e de correlação com defasagem utilizando o software R. Resultados: Observou-se redução de 52,9% nos casos humanos (de 68 em 2014 para 32 em 2023), com sazonalidade concentrada entre fevereiro e agosto (57,5% dos casos). A soropositividade canina manteve-se entre 6,5% e 15,8%, sem tendência clara de redução. A densidade vetorial apresentou forte sazonalidade (setembro a dezembro), com predominância no peridomicílio (87,8%). A análise de defasagem demonstrou correlação positiva (0,315) entre densidade vetorial e casos humanos com intervalo de 1-2 meses, evidenciando a precedência temporal na cadeia epidemiológica. Conclusão: Os resultados confirmam a existência de padrões sazonais distintos e defasagem temporal entre os componentes da cadeia epidemiológica, sugerindo que o monitoramento integrado pode fornecer indicadores precoces para direcionar estratégias de controle. A persistência da positividade canina, mesmo com redução dos casos humanos, indica que o ciclo de transmissão permanece ativo, exigindo reavaliação das estratégias implementadas.

 

Palavras-chave: Leishmaniose Visceral. Epidemiologia. Lutzomyia Longipalpis. Zoonoses. Saúde pública.

 

ABSTRACT

 

Objective: To analyze the temporal dynamics of visceral leishmaniasis in Teresina, correlating data on human cases, canine seropositivity and vector density between 2014 and 2023, identifying seasonal patterns, temporal correlations and factors associated with disease transmission. Method: Ecological study of time series, with a quantitative approach, retrospectively analyzing records of visceral leishmaniasis in humans (n=435) obtained from SINAN, data from canine serological surveys (n=314,844 tests) from the Zoonoses Management and entomological records of the vector Lutzomyia longipalpis (n=4,860 specimens). Descriptive, temporal, and correlation-lag statistical analyses were used using R software. Results: A 52.9% reduction in human cases was observed (from 68 in 2014 to 32 in 2023), with seasonality concentrated between February and August (57.5% of cases). Canine seropositivity remained between 6.5% and 15.8%, with no clear downward trend. Vector density showed strong seasonality (September to December), with predominance in the peridomicile (87.8%). Lag analysis demonstrated a positive correlation (0.315) between vector density and human cases with an interval of 1-2 months, evidencing the temporal precedence in the epidemiological chain. Conclusion: The results confirm the existence of distinct seasonal patterns and temporal lag between the components of the epidemiological chain, suggesting that integrated monitoring can provide early indicators to direct control strategies. The persistence of canine positivity, even with a reduction in human cases, indicates that the transmission cycle remains active, requiring a reassessment of the strategies implemented.

 

Keywords: Visceral Leishmaniasis. Epidemiology. Lutzomyia longipalpis. Zoonoses. Public health.


Palavras-chave


Leishmaniose visceral; Epidemiologia; Lutzomyia longipalpis; Zoonoses; Saúde pública.

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DOI: http://dx.doi.org/10.12819/rsf.2024.11.1.2

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Revista Saúde em Foco N° 1/2014