Contabilidade Mental como Ferramenta de Promoção da Cidadania de Investidores Brasileiros / Mental Accounting as a Tool to Promote Citizenship Among Brazilian Investors
Resumo
A Teoria da Contabilidade Mental tem mostrado cada dia mais sua relevância para o estudo do perfil das pessoas no que tange à compreensão das decisões financeiras, agregando valor fundamental às Finanças Comportamentais. Desse modo, essa pesquisa abordou o envolvimento de investidores brasileiros com as práticas de contabilidade mental e a forma como pensam suas finanças pessoais. Para tal, foi realizado um estudo com modelagem de equações estruturais baseada em mínimos quadrados parciais, por meio de uma survey aplicada a 201 brasileiros investidores, para identificar quais elementos mais impactam o processo cognitivo da contabilidade mental. Os principais resultados evidenciam que os fatores psicológicos e comportamentais têm importância singular, e que o homo economicus, aos olhos da economia tradicional, um ser plenamente racional e maximizador de utilidade, deve ser visto como humans, ou seja, um indivíduo exposto às inúmeras heurísticas e vieses do cotidiano, que impactam diretamente suas atitudes. Assim, restou claro que uma boa educação financeira não é fator suficiente para evitar a tomada de decisões ruins. Por isso, é de suma importância compreender os elementos comportamentais que interferem no processo cognitivo dos indivíduos, a fim de que os profissionais da área de finanças possam incentivar o uso da contabilidade mental como ferramenta para planejamento e autocontrole financeiro, na busca por tomada de decisões financeiras mais conscientes, contribuindo de forma prática para um melhor gerenciamento do dinheiro e para o autoconhecimento individual, elevando os níveis de bem-estar financeiro e social e promovendo a plena cidadania.
Palavras-chave: Contabilidade Mental. Finanças Comportamentais. Investidores Brasileiros.
ABSTRACT
The Mental Accounting Theory has shown increasingly its relevance to the study of people's profile when it comes to understanding financial decisions, adding fundamental value to Behavioral Finance. Thus, this research focused on the involvement of Brazilian investors with mental accounting practices and the way they think about their personal finances. To this end, a study was conducted with structural equation modeling based on partial least squares, through a survey applied to 201 Brazilian investors, to identify which elements most impact the cognitive process of mental accounting. The main results show that psychological and behavioral factors are of singular importance and that the homo economicus, in the eyes of traditional economics a fully rational and utility maximizing being, must be seen as human, i.e., an individual exposed to the countless heuristics and biases of everyday life, which directly impact his attitudes. Thus, it is clear that a good financial education is not a sufficient factor to avoid making bad decisions. Therefore, it is of great importance to understand the behavioral elements that interfere in the cognitive process of individuals, so that finance professionals can encourage the use of mental accounting as a tool for planning and financial self-control, in the search for more conscious financial decision-making, contributing in a practical way to better money management and individual self-knowledge, increasing the levels of financial and social well-being and promoting full citizenship.
Keywords: Mental Accounting. Behavioral Finance. Brazilian Investors.
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DOI: http://dx.doi.org/10.12819/2024.21.1.6
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