O Meu Sofrimento tem Nome, Horário e uma Tarja Preta: O Intenso uso de Psicotrópicos Como Método de Intervenção / My Suffering Has a Name, Time and A Black Stripe: The Intense use of Psychotropic Drugs as an Intervention Method

Maria Juliana Lira Gregório, Francisco Anderson Carvalho de Lima

Resumo


A atenção primária à saúde é indispensável nos cuidados em saúde mental no território. No entanto, é perceptível a predominância da prática biomédica que tem como consequência o alto nível de prescrições de psicotrópicos para usuários do serviço. Este estudo tem como objetivo compreender o que tem sido produzido na literatura científica brasileira nos estudos sobre medicalização na Atenção Primária à Saúde no período de 2018 a 2022. A metodologia utilizada foi a revisão integrativa para o aprofundamento dessa temática que está presente no cotidiano dos profissionais. Foi possível perceber três subtemas para compreender de uma forma mais ampliada a temática da medicalização na atenção primária, quais sejam: a medicalização do sofrimento psíquico das mulheres na atenção primária à saúde, relacionando as questões de gênero, raça e classe como potenciais para adoecimento psíquico e tendo a medicalização como forma de silenciamento de sintomas; o medicamento como intervenção central dos profissionais da saúde, o qual discute sobre o poder biomédico ainda muito prevalente na APS; a importância da rede intersetorial e do território na prática do cuidado em saúde mental que, por fim, discute sobre indissociabilidade entre esses dois importantes instrumentos para uma prática antimanicomial. Por fim, identifica-se que, para compreender o adoecimento do usuário, é necessário considerar os determinantes sociais em saúde, para que seja possível alcançar a integralidade do cuidado ao usuário em sofrimento, visto que apenas a intervenção medicamentosa não é eficaz. Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde. Medicalização. Saúde Mental.  ABSTRACT

 

Primary health care is essential for mental health care in the territory. However, the predominance of biomedical practice is noticeable, resulting in a high level of psychotropic prescriptions for service users. This study aims to understand what has been produced in Brazilian scientific literature in studies on medicalization in Primary Health Care in the period from 2018 to 2022. The methodology used was the integrative review to deepen this theme that is present in the daily lives of professionals. It was possible to perceive three subthemes to understand in a broader way the theme of medicalization in primary care, namely: the medicalization of women's psychological suffering in primary health care, relating issues of gender, race and class as potential for psychological illness and using medicalization as a way of silencing symptoms; medicine as a central intervention for health professionals, which discusses the biomedical power that is still very prevalent in PHC; the importance of the intersectoral network and the territory in the practice of mental health care, which, finally, discusses the inseparability between these two important instruments for anti-asylum practice. Finally, it is identified that to understand the user's illness it is necessary to consider the social determinants of health, so that it is possible to achieve comprehensive care for the user in pain, since only medication intervention is not effective. Keywords: Primary Health Care. Medicalization. Mental health. 

 


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DOI: http://dx.doi.org/10.12819/2024.21.3.8

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