Do Minimalismo ao Judiciário como Superego da Sociedade: Uma História de Expansão e (Des)Confiança / From Minimalism to the Judiciary as Society's Superego: Ahistory of Expansion and (Dis)Trust

Nelson Juliano Cardoso Matos, Letícia Maria Silva Andrade Magalhães, Deborah Dettmam Matos

Resumo


Este artigo tem o objetivo de analisar a expansão do poder judiciário que passou a assumir funções tradicionalmente atribuídas ao legislativo e ao executivo, através de uma interpretação mais ampla da Constituição. Essa postura judicial de expansão está relacionada  à desconfiança em relação à classe política e uma transferência de expectativas para o Judiciário. Como objetivos tem-se também a abordagem dos temas da criação judicial do direito, separação e choque entre os poderes. A metodologia adotada neste artigo é a qualitativa, essencialmente bibliográfica. Há predomínio da utilização de bibliografia para realizar as análises de modo a buscar compreender e interpretar o fenômeno jurídico que é objeto deste artigo, a partir da pesquisa com uso da teoria do minimalismo judicial de Cass Sunstein como uma alternativa teórica que vai na contramão do ativismo, além da ideia do judiciário como um censor moral último e o superego da sociedade na concepção de Ingerborg Maus, sendo esses dois autores os marcos teóricos do artigo. Como resultados da pesquisa, tem-se que, apesar da expansão do judiciário como um superego da sociedade, o minimalismo com seu modelo de autocontenção e estreiteza nas decisões traz um modo de ação para os juízes resolverem os casos concretos de forma menos ampla e mais contida. Na conclusão do trabalho, são apresentadas considerações sobre o estado atual do Judiciário, destacando a importância do fortalecimento da fiscalização da sociedade sobre as condutas cada vez mais invasivas tomadas em decisões judiciais que se revestem de um discurso de legitimidade.

 

Palavras-chave: Minimalismo Judicial. Superego da Sociedade. Ativismo Judicial. Separação De Poderes.

 

ABSCTRACT

 

This article aims to analyze the expansion of judicial power, which began to assume functions traditionally attributed to the legislative and executive, through a broader interpretation of the Constitution. This judicial stance of expansion is related to distrust towards the political class and a transfer of expectations to the Judiciary. The objectives also include addressing the themes of judicial creation of law, separation and clash between powers. The methodology adopted in this article is qualitative, essentially bibliographic. There is a predominance of using bibliography to carry out analyzes in order to understand and interpret the legal phenomenon that is the subject of this article, based on research using Cass Sunstein's theory of judicial minimalism as a theoretical alternative that goes against activism, in addition to the idea of the judiciary as an ultimate moral censor and the superego of society in the conception of Ingerborg Maus, with these two authors being the theoretical frameworks of the article. The results of the research show that, despite the expansion of the judiciary as a superego of society, minimalism with its model of self- containment and narrowness in decisions brings a mode of action for judges to resolve concrete cases in a less broad and more contained way. At the conclusion of the work, considerations are presented on the current state of the Judiciary, highlighting the importance of strengthening society's oversight of the increasingly invasive conduct taken in judicial decisions that embrace a discourse of legitimacy.

 

Keywords: Judicial Minimalism; Superego of Society. Judicial Activism. Separation Of Powers.

 

 


Texto completo:

PDF RAR XML

Referências


BARROSO, Luís Roberto. A razão sem voto: o Supremo Tribunal Federal e o governoda maioria. Revista Brasileira de Políticas Públicas, Brasília, v. 5, 2015 p. 23-50.

BARROSO, Luís Roberto. Constituição, Democracia e supremacia judicial: Direito e Política no Brasil contemporâneo. Revista da Associação Mineira do Ministério Público, Belo Horizonte, v. 42, n. 25, jul./dez. 2011.

BARROSO, Luís Roberto. Contramajoritário, representativo e iluminista: os papéisdos Tribunais Constitucionais nas Democracias contemporâneas. Revista Direito e Práxis, v. 9, n. 4, p. 2171-2228, 2018.

BARROSO, Luís Roberto. O novo Direito Constitucional brasileiro: contribuições para a construção teórica e prática da jurisdição constitucional no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Forum, 2012.

BOBBIO, Norberto. O futuro da Democracia: uma defesa das regras do jogo. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1986.

BRASIL. Código de Processo Civil. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 29 jun. 2023.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Senado, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 29 jun. 2023.

BRASIL. Lei nº 13.655, de 25 de abril de 2018. 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13655.htm. Acesso em: 29 jun. 2023.

HAMILTON, Alexander; MADISON, James; JAY, John. The federalist. Indianopolis: Hackett Publishing Company, 1788.

HIRSCHL, Ran. O novo constitucionalismo e a judicialização da política pura no mundo. Revista de Direito Administrativo, v. 251, 139-178, 2009.

FEFERBAUM, Marina. QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. Metodologia da pesquisa em Direito: técnicas e abordagens para elaboração de monografias, dissertações e teses. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2019.

GICO JUNIOR, Ivo Teixeira. Hermenêutica das Escolhas e a Função Legislativa do Judiciário. Revista Direito Empresarial - RDemp, Belo Horizonte, ano 15, nº 2, p. 55- 84, 2018.

MARMELSTEIN, George. Efeito Backlash da Jurisdição Constitucional: reações políticas ao ativismo judicial. Terceiro Seminário Ítalo-Brasileiro, p. 3, 2016.

MATOS, Nelson Juliano Cardoso; DETTMAM, Deborah. A Natureza do Estado Federal no Contexto Contemporâneo: Visitando a Estrutura Conceitual Clássica do Federalismo. Revista FSA (Centro Universitário Santo Agostinho), v. 17, n. 2, p. 56-71, 2020.

MATOS, Nelson Juliano Cardoso; DETTMAM, Deborah. O princípio da separação de poderes na Constituição do estado do Piauí (e os efeitos do princípio da simetria federativa). Revista Jurídica Eletrônica da UFPI, v. 6, n. 02, 2019.

MAUS, Ingerborg (org.). O Judiciário como superego da sociedade. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.

MONTESQUIEU, Charles Louis de Secondat Baron de la. Do espírito das leis. São Paulo: Martin Claret, 2003.

OLIVEIRA, Claudio Ladeira de; MOURA, Suellen Patrícia. O Minimalismo Judicial de Cass Sunstein e a resolução do Senado Federal no controle de constitucionalidade: ativismo judicial e legitimidade democrática. Constituição, Economia e Desenvolvimento: Revista Eletrônica da Academia Brasileira de Direito Constitucional, v. 8, n. 14, p. 238-263, 2016.

OLIVEIRA, Paulo Eduardo Vieira de; MENDES, Fernanda Ferreira. Backlash na teoriado Constitucionalismo democrático e na teoria do Minimalismo Judicial. Revista Contribuciones a las Ciencias Sociales, 2018.

SERAFIM, Matheus Casimiro Gomes; LIMA, George. Compromisso significativo: contribuições sul-africanas para os processos estruturais no Brasil. Revista de Investigações Constitucionais, v. 8, p. 771-806, 2021.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2017.

SUNSTEIN, Cass Robert. A Constitution of many minds: why the founding document doesn’t mean what it meant before. New Jersey: Princeton University Press, 2009.

SUNSTEIN, Cass Robert. Beyond Judicial Minimalism. John M. Olin Law & Economics Working Paper, n. 432, p. 01-25, 2008.

SUNSTEIN, Cass Robert. Foreword: Leaving things undecided. Harvard Law Review, p. 7, 1995.

SUNSTEIN, Cass Robert. Legal Reasoning and Political Conflict. New York: Oxford University Press, 1996.

SUNSTEIN, Cass Robert. One case at a time: Judicial Minimalism on the Supreme Court. Cambridge: Havard University Press, 1999.

SUNSTEIN, Cass Robert. Problems with minimalism. Stanford Law Review, v. 56, p. 1899-1918, 2006.

POST, Robert; SIEGEL, Reva. Roe Rage: Democratic Constitutionalism and the Backlash. Harvard Civil Rights - Civil Liberties Law Review, p. 373-433, 2007.

VIEIRA, Oscar Vilhena. Supremocracia. Revista Direito GV, v. 4, p. 441-463, 2008.

ZIEGLER, Joici Antonia; GAUER, Lessandra Bertolazi. Minimalismo Judicial na visãode Cass Sunstein: uma alternativa para a concretização da Democracia. Revista Jurídica Eletrônica da UFPI, v. 3, n. 02, 2016.




DOI: http://dx.doi.org/10.12819/2024.21.5.6

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.

Ficheiro:Cc-by-nc-nd icon.svg

Atribuição (BY): Os licenciados têm o direito de copiar, distribuir, exibir e executar a obra e fazer trabalhos derivados dela, conquanto que deem créditos devidos ao autor ou licenciador, na maneira especificada por estes.
Não Comercial (NC): Os licenciados podem copiar, distribuir, exibir e executar a obra e fazer trabalhos derivados dela, desde que sejam para fins não-comerciais
Sem Derivações (ND): Os licenciados podem copiar, distribuir, exibir e executar apenas cópias exatas da obra, não podendo criar derivações da mesma.

 


ISSN 1806-6356 (Impresso) e 2317-2983 (Eletrônico)