Gestão Social de Abordagem Crítica Frankfurtiana e o Pensamento Miltoniano: Uma Aproximação / Social Management with a Frankfurtian Critical Approach and Miltonian Thought: An Approximation
Resumo
Neste ensaio teórico, realizamos diálogos entre o pensamento de Milton Santos e o conceito de gestão social em sua vertente de abordagem crítica Frankfurtiana. Com base em lacunas teóricas e problematizações encontradas na literatura no concernente à vertente indicada, propusemos uma abordagem que considera as tensões e disputas entre os circuitos socioeconômicos, destacando a importância da luta por emancipação dos sujeitos locais. Sob essa ótica, a gestão social deve concentrar-se no circuito inferior, onde se encontram os "homens lentos", os quais podem lutar pela redefinição das relações socioeconômicas. Indicamos que a gestão social pode ser mais factível à realidade desigual socioeconômica brasileira, ao considerar as relações de poder e a luta por emancipação dos sujeitos locais em relação ao grande capital em seu escopo. Destarte, entendemos que é no e para o circuito inferior, que a gestão social está ancorada, composta por seus homens lentos, os quais são norteados por uma racionalidade não hegemônica e que a todo momento têm as suas subjetividades, assim como as suas vidas, atacadas pelo circuito superior e a sua verticalidade, e que apenas a consciência explícita a esses sujeitos e por parte desses sujeitos poderá proporcionar uma efetiva emancipação de suas subjetividades em relação à estrutura hegemônica.
Palavras-chave: Estudos Organizacionais. Gestão Social. Teoria da Ação Comunicativa. Pensamento Miltoniano.
ABSTRACT
In this theoretical essay, we establish a dialogue between the thought of Milton Santos and the concept of social management in its Frankfurtian critical approach. Based on theoretical gaps and issues found in the literature concerning the indicated approach, we proposed a perspective that considers the tensions and disputes between socioeconomic circuits, highlighting the importance of the struggle for the emancipation of local subjects. From this perspective, social management should focus on the inferior circuit, where the "slow men" are found, who can fight for the redefinition of socioeconomic relations. We indicate that social management can be more feasible for the unequal Brazilian socioeconomic reality by considering the power relations and the struggle for the emancipation of local subjects in relation to big capital within its scope. Thus, we understand that social management is anchored in, and for, the inferior circuit, composed of its "slow men," who are guided by a non-hegemonic rationality and whose subjectivities, as well as their lives, are constantly attacked by the superior circuit and its verticality. Only an explicit consciousness of this on the part of these subjects can provide effective emancipation of their subjectivities in relation to the hegemonic structure.
Keywords: Organizational Studies. Social Management. Communicative Action Theory. Miltonian Thought.
Referências
AGUIAR-BARBOSA, A. de P.; CHIM-MIKI, A. F. Evolução do conceito de Gestão Social (1990-2018): uma análise de copalavras. Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 25, n. 80, 2020.
ALVES, V. J. R. Formação socioespacial e patrimônio-territorial latinoamericano, resistência negra pelas rodas de samba do Distrito Federal, Brasil. PatryTer, v. 3, n. 6, p. 150-166, 2020.
CAMPOS, M. de S.; FERREIRA, L. L. S.; JÚNIOR, J. A. C. de C. M. Gestão social, economia, solidariedade: Habermas, Polanyi e o paradigma do mercado autorregulado. Revista Gestão e Secretariado (GeSec), São Paulo, SP, v. 14, n. 6, p. 8962-8981, 2023.
CANÇADO, A. C.; TENÓRIO, F. G.; PEREIRA, J. R. Gestão social: reflexões teóricas e conceituais. Cad. EBAPE.BR, Rio de Janeiro, RJ, v. 9, n. 3, p. 681-703, 2011
CARMO, D. G.; PEREIRA, J. R.; REZENDE, V. A. Metodologias Participativas: possibilidades para o fortalecimento teórico da gestão social. XLVI Encontro da ABPAD – EnANPAD, 2022.
CORRÊA, R.L. Milton Santos e a temática da rede urbana. In: SOUZA, M.A.A. (org.). O mundo do cidadão, um cidadão do mundo. São Paulo: Hucitec, 1996.
DIEHL, D. A. Construção dos direitos humanos pelos povos da América Latina – uma análise crítica da teoria dos sistemas e da teoria do discurso a partir da filosofia da libertação latino-americana. In: Encontro Anual da ANDEPH, 7., 2012. Curitiba, Anais. São Paulo: ANDEPH, 2012, p. 01-20.
DEGRANDI, J. O.; SILVEIRA, R. L. L. Verticalidades e horizontalidades na função comercial da cidade de Santa Maria-RS. Mercator-Revista de Geografia da UFC, v. 12, n. 29, p. 39-50, 2013.
FRANÇA FILHO, G. C. Definindo Gestão Social. In.: SILVA JR., J. T.; MÂSIH, R. T. (org) et al. Gestão Social: práticas em debate, teorias em construção. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2008.
FREITAG, B. A teoria crítica, ontem e hoje. São Paulo: Editora Brasiliense, 1990.
GROSFOGUEL, R. Para descolonizar os estudos de economia política e os estudos pós-coloniais: transmodernidade, pensamento de fronteira e colonialidade global. Periferia, v. 1, n. 2, 2009.
GUEREIRO, R. A. A redução sociológica. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996.
GUTIERREZ, G. L.; ALMEIDA, M. A. B. de. Teoria da Ação Comunicativa (Habermas): estrutura, fundamentos e implicações do modelo. Veritas, v. 58, n. 1, p. 151-173, jan/abr. 2013.
HABERMAS J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.
HABERMAS J. Teoria de la acción comunicativa. V. I-II. Madri: Taurus, 1988.
HABERMAS, J. Théorie de l’agir communicationnel. Paris: Fayard, 1987.
IBARRA-COLADO, E. Organization studies and epistemic coloniality in Latin America: thinking otherness from the margins. Organization, v. 13, n. 4, p. 463-488, 2006.
MACHADO, T. A. Da formação social em Marx à formação socioespacial em Milton Santos: uma categoria geográfica para interpretar o Brasil? GEOgraphia, v. 18, n. 38, p. 71-98, 2016.
MARTINS, J. R. Immanuel Wallerstein e o sistema-mundo. Iberoamérica Social, n. V, p. 95-108, 2015.
MÜHL, E. H. Habermas e a educação: racionalidade comunicativa, diagnóstico crítico e emancipação. Educação & Sociedade, v. 32, p. 1035-1050, 2011.
OLIVEIRA, J. R.; ALLEBRANDT, S. L.; SAUSEN, J. O.; TENÓRIO, F. G. A Gestão Social no Contexto do Programa Territórios da Cidadania: os casos dos Municípios de Braga, Campo Novo e Coronel Bicaco - RS. Administração Pública e Gestão Social, [S. l.], v. 3, n. 1, p. 43–65, 2011.
OLIVEIRA, L. A.; FERNANDES, A. B. Espaço público, política e ação comunicativa a partir da concepção habermasiana. Revista Estudos Filosóficos, nº 6, 2011.
OURIQUES, N. Colapso do figurino Francês: crítica às ciências sociais no Brasil. Florianópolis. Isular, 2014.
PERES JR, Miguel Rivera; PEREIRA, José Roberto. Abordagens teóricas da Gestão Social: uma análise de citações exploratória. Cadernos EBAPE. BR, v. 12, p. 221-236, 2014.
PESQUEUX, Y.; VASCONCELOS, I. F. F. G. de. Teoria da Ação Comunicativa e responsabilidade social empresarial: uma proposta de pesquisa. Cad. EBAPE.BR, v. 10, n. 1, Rio de Janeiro, Mar. 2013.
PINHO, J. A. G. Gestão social: conceituando e discutindo os limites e possibilidades reais na sociedade brasileira. In: RIGO, A. S.; SILVA JÚNIOR, J. T.; SCHOMMER, P. C.; CANÇADO, A. C. Gestão Social e Políticas Públicas de Desenvolvimento: Ações, Articulações e Agenda. Recife: UNIVASF, 2010.
PINHO, J. A. G.; SANTOS, M. E. P. Gestão social: uma análise crítica de experiências brasileiras. Revista do Serviço Público, v. 66, n. 2, p. 257-279, 2015.
RAMOS, G. A redução sociológica. Rio de Janeiro: ISEB, 1958.
SALVADOR, D. S. C. Espaço geográfico e circuito inferior da economia. Mercator, v. 11, n. 25, p. 47 a 58-47 a 58, 2012.
SANTOS, M. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979.
SANTOS, M. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana nos países subdesenvolvidos. São Paulo: Edusp, 2004.
SANTOS, M. Sociedade e espaço: a formação social como teoria e como método. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2014.
Scheffer, B. K.; Rubenfeld, M. G. A consensus statement on critical thinking in nursing. The Journal of nursing education, v. 39, n. 8, 352–359, 2000.
SILVEIRA, M. L. Urbanización latinoamericana y circuitos de la economía urbana. Revista Geográfica de América Central, v. 2, n. 47E, 2011.
Tenório, F. G. Gestão social: uma perspectiva conceitual. Revista de Administração Pública. v. 32, n. 5, 7–23, 1998.
TENÓRIO, F. G. (Re)visitando o conceito de gestão social. Desenvolvimento em Questão, v. 3, p. 101-124, 2005.
TENÓRIO, F. G. Um espectro ronda o terceiro setor, o espectro do mercado. 3 Ed. Ijuí: Editora da Unijuí, 2008.
TENÓRIO, F. G. Gestão social, um conceito não idêntico? ou a insuficiência inevitável do pensamento. In: CANÇADO, Airton Cardoso; TENÓRIO, Fernando Guilherme; SILVA JR, Jeová Torres. (Org.). Gestão social: aspectos teóricos e aplicações. Ijuí: Editora Unijuí, 2012, p. 23-36.
TENÓRIO, F. G.; ARAÚJO, E. T. de. Mais uma vez o conceito de gestão social. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, RJ, v. 18, n. 4, p. 891–905, 2020.
TENÓRIO, F. G. (Re)Visitando o Conceito de Gestão Social. Desenvolvimento em Questão, v. 3, n. 5, p. 101-124, 2005. Disponível em: http://www.spell.org.br/documentos/ver/20176/-re-visitando-o-conceito-de-gestao-social. Acesso em: 29 jul. 2023.
TENÓRIO, F. G. Gestão social: uma perspectiva conceitual. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, RJ, v. 32, n. 5, p. 7 a 23, 1998.
TENÓRIO, F. G.; PARRA, F. L.; TENÓRIO, G. M. Tem ancestralidade o conceito de gestão social?. Estudios de la Gestión, v. 11, p. 19-17, 2022.
TENÓRIO, F. G.; Teixeira, M. A. C. O conceito de gestão social e a democracia regressiva no Brasil após 2016. Administração pública e gestão social, v. 13, p. 50, 2021.
VALENÇA, D. A. Entre a ação comunicativa e a materialidade histórica: limites e possibilidades a partir das jornadas de junho. Revista Culturas Jurídicas, v. 1, n. 1, 2014.
VASCONCELOS, I. F. F. G.; PESQUEUX, Y. Habermas e a teoria da ação comunicativa: uma interpretação. Paris: Conservatoire National des Arts et Métiers, 2013
VASCONCELOS, I. F. F. G.; PESQUEUX, Y.; CYRINO, A. B. A teoria da ação comunicativa de Habermas e suas aplicações nas organizações: contribuições para uma agenda de pesquisa. Cad. EBAPE.BR, v. 12, Edição Especial, apresentação, Rio de Janeiro, p. 382-383, Ago. 2014.
VIZEU, F. Ação Comunicativa e Estudos Organizacionais. RAE, v. 45, n. 4, p. 10-21, Out./Dez. 2005.
WRIGHT, E. O. Como ser anticapitalista no século XXI? São Paulo: Editora Boitempo, 2020.
ZWICK, E.; SILVA, I. C., BRITO, M. J. Estratégia como prática e teoria da ação comunicativa: possíveis aproximações teóricas. Cad. EBAPE.BR, v. 12, n. 1, Rio de Janeiro, p. 384-400, 2014.
DOI: http://dx.doi.org/10.12819/2025.22.10.4
Apontamentos
- Não há apontamentos.

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Atribuição (BY): Os licenciados têm o direito de copiar, distribuir, exibir e executar a obra e fazer trabalhos derivados dela, conquanto que deem créditos devidos ao autor ou licenciador, na maneira especificada por estes.
Não Comercial (NC): Os licenciados podem copiar, distribuir, exibir e executar a obra e fazer trabalhos derivados dela, desde que sejam para fins não-comerciais
Sem Derivações (ND): Os licenciados podem copiar, distribuir, exibir e executar apenas cópias exatas da obra, não podendo criar derivações da mesma.
ISSN 1806-6356 (Impresso) e 2317-2983 (Eletrônico)