Do Marketing Político ao Autoritarismo: Um Olhar Sobre os Discursos de Votação do Impeachment de Dilma Rousseff / From Political Marketing to Authoritarianism: A Look at Dilma Rousseff's Impeachment Voting Speeches
Resumo
O propósito do artigo foi analisar as manifestações de deputados por ocasião da votação de abertura do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. Adotamos a ótica do marketing político devido à importância que foi dada a sessão transformando-a em evento nacional com cobertura ao vivo da televisão em rede aberta, em um domingo, marcando aquele dia como antológico. Buscou-se no conceito de autoritarismo de direita (ALTEMEYER, 2006) a fundamentação para caracterizar a existência de discursos autoritários, tendo como corpus de análise os discursos de votação dos 511 Deputados Federais. Os dados foram analisados com base na técnica de análise de discurso, Teoria da argumentação e retórica (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2005). Verificou-se que existiu, na fala dos deputados, um viés autoritário sendo classificados de três formas: a submissão autoritária por argumento de autoridade, a agressão autoritária por argumentos de autoridade e pragmático e convencionalismo por argumentos de autoridade. Além disso, não foi possível relacionar os políticos autoritários a uma ideologia política específica, pois se observou que políticos de direita, esquerda e centro utilizaram-se do autoritarismo em seus discursos para votação. Dessa forma, apontamos que devemos atentar para o fato de que, apesar de vivermos em uma democracia, o autoritarismo faz-se presente nos discursos políticos e que não se pode afirmar que faça parte de uma ideologia política, mas sim do próprio político, cabendo à comunidade acadêmica debater e buscar uma conscientização a respeito dos possíveis impactos para a sociedade.
Palavras-Chave: Marketing Político. Autoritarismo de Direita. Discursos Políticos. Impeachment.
ABSTRACT
The purpose of the article was to analyze the demonstrations of deputies at the time of the vote to open the impeachment process of former President Dilma Rousseff in the House of Representatives. We adopted the view of political marketing due to the importance given to the session, transforming it into a national event with live coverage of open network television, on a Sunday, marking that day as an anthological one. The concept of right-wing authoritarianism (ALTEMEYER, 2006) was used as the basis for characterizing the existence of authoritarian discourses, with the voting discourses of the 511 Federal Representatives as the corpus of analysis. The data were analyzed based on the discourse analysis technique, Theory of argumentation and rhetoric (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2005). It was found that there was, in the speech of deputies, an authoritarian bias being classified in three ways: authoritarian submission by argument of authority, authoritarian aggression by arguments of authority and pragmatic and conventionalism by arguments of authority. In addition, it was not possible to relate authoritarian politicians to a specific political ideology, as it was observed that politicians from the right, left and center used authoritarianism in their voting speeches. Thus, we point out that we must pay attention to the fact that, although we live in a democracy, authoritarianism is present in political discourses and that one cannot affirm that it is part of a political ideology, but of the politician himself, and it is up to the academic community to debate and seek an awareness about the possible impacts on society.
Keywords: Political marketing. right-wing-authoritarianism. political speeches. impeachment.
Referências
ADORNO, T. W et al. Nevitt. The authoritarian personality. New York: Harper and Brothers, 1950.
ALTEMEYER, B. Right-wing authoritarianism. Winipeg: University of Manitoba Press, 1981.
_____. The authoritarian specter. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 1996.
_____. The other “authoritarian personality”. Advances in experimental social psychology, v. 30, p. 47-92, 1998.
_____. The authoritarians. Winipeg: University of Manitoba Press, 2006.
ARENDT, H. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
BARROS, D. F. O eleitor, o político e o marketing político-o bom, o mau e o feio. Dissertação de Mestrado em Administração Pública, EBAPE. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005.
BARROS, D. F; AYROSA, Eduardo André Teixeira. Trocas Eleitorais: Uma Proposta para o Estudo do Comportamento do Eleitor. Revista Sociedade, Contabilidade e Gestão. Rio de Janeiro, v.1, n.1, p. 74-83, 2006.
BECKER, C; CESAR, C; GALLAS, D; WEBER, M. H. Manifestações e votos sobre o impeachment de Dilma Rousseff na primeira página de jornais brasileiros. Revista Latinoamericana de Ciencias de la Comunicación, v. 13, n. 24, 2017.
BRASIL. Constituição Federal. 35 ed. Brasília: Centro de Documentação e Informação Edições Câmara, 2012.
CÂMARA, DOS DEPUTADOS. Resolução da Câmara dos Deputados ano LXXI, número 56 de 2016. Diário da Câmara dos Deputados, 2016.
COHRS, J. C; ASBROCK, F. Right-wing authoritarianism, social dominance orientation and prejudice against threatening and competitive ethnic groups. European Journal of Social Psychology, v. 39, n. 2, p. 270-289, 2009.
COSTA, R. A comunicação na campanha política. Aurora. Revista de Arte, Mídia e Política. ISSN 1982-6672, v. 6, n. 16, p. 65-94, 2013.
CRISTALDO, H.; VERDÉLIO, A. Cientistas políticos criticam argumentos de deputados em votação de impeachment. Disponível em: . Acesso em: 25 mai 2017. Brasília: EBC, 2016.
CWALINA, W.; FALKOWSKI, A.; NEWMAN, B. I. Political management and marketing. In: JOHNSON, Dennis W. Routledge Handbook of Political Management, p. 57-66. New Yok: Taylor & Francis, 2009.
_____. Political Marketing: Theoretical and Strategic Foundations. New York: Routledge, 2015.
DIXON, D. F. Marketing as production: The development of a concept. Journal of the Academy of Marketing Science, v. 18, n. 4, p. 337-343, 1990.
DUCKITT, J.; SIBLEY, C. G. Personality, ideology, prejudice, and politics: A dual process motivational model. Journal of personality, v. 78, n. 6, p. 1861-1894, 2010.
ELMS, A. C.; MILGRAM, S. Personality characteristics associated with obedience and defiance toward authoritative command. Journal of Experimental Research in Personality, v. 1, p. 282-289, 1966.
ETCHEZAHAR, E; CERVONE, N. El estudio del autoritarismo en el continuo ideológico-político. Anuario de investigaciones, v. 18, p. 243-248, 2011.
ETCHEZAHAR, E et al. Psychometric properties of the Attitudes Toward Gay men scale in Argentinian context: The influence of sex, authoritarianism, and social dominance orientation. International Journal of Psychological Research, v. 9, n. 1, p. 21-29, 2016.
FIGUEIREDO, R. Marketing político e persuasão eleitoral. São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2000.
KAID, L. L. Political management and political communications. In: JOHNSON, Dennis W. Routledge Handbook of Political Management, p. 57-66. New Yok: Taylor & Francis, 2009.
KOTLER, P. Overview of political candidate marketing. Advances in Consumer Research, v.2, p. 761-770, 1975.
KOTLER, P; LEVY, S. Broadening the concept of marketing. Journal of
Marketing, vol. 33, p. 10-15, 1969.
MARLAND, A. Marketing political soap: A political marketing view of selling candidates like soap, of electioneering as a ritual, and of electoral military analogies. Journal of Public Affairs, v. 3, n. 2, p. 103-115, 2003.
MAUSER, G. Political Marketing: an approach to campaign strategy. New York: Praeger Publishers, 1983.
MIGUEL, L. F. Os meios de comunicação e a prática política. Lua Nova, n. 55-56, 2002.
MUSI, E. How did you change my view? A Corpus-based Study of Concessions’ Argumentative Role. Discourse Studies, v. 20, n. 2, p. 270-288, 2018.
NEWMAN, B. I. The marketing of the president: Political marketing as campaign strategy. Thousand Oaks: Sage Publications, 1994.
PERELMAN, C; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da argumentação: a nova retórica. 2 ed.São Paulo: Martins Fontes, 2005.
SCOTTO, Gabriela. Encontros e desencontros entre a política e o mercado: uma antropologia das" trocas" no espaço do marketing político. Horizontes Antropológicos, v. 9, n. 19, p. 49-78, 2003.
SHAMA, A. Applications of marketing concepts to candidate marketing. Advances in Consumer Research, v.2, p. 793-802, 1975.
SHOSTACK, G. L. Breaking free from product marketing. The Journal of Marketing, p. 73-80, 1977.
THIOLLENT, M. Opiniao pública e debates políticos (subsídios metodológicos). Rio de Janeiro: Polis, 1986.
VARGO, Stephen L.; LUSCH, R. F. Evolving to a new dominant logic for marketing. Journal of marketing, v. 68, n. 1, p. 1-17, 2004.
VELHO, G. Desvio e divergência: uma crítica da patologia social. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
DOI: http://dx.doi.org/10.12819/2020.17.2.1
Apontamentos
- Não há apontamentos.
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Atribuição (BY): Os licenciados têm o direito de copiar, distribuir, exibir e executar a obra e fazer trabalhos derivados dela, conquanto que deem créditos devidos ao autor ou licenciador, na maneira especificada por estes.
Não Comercial (NC): Os licenciados podem copiar, distribuir, exibir e executar a obra e fazer trabalhos derivados dela, desde que sejam para fins não-comerciais
Sem Derivações (ND): Os licenciados podem copiar, distribuir, exibir e executar apenas cópias exatas da obra, não podendo criar derivações da mesma.
ISSN 1806-6356 (Impresso) e 2317-2983 (Eletrônico)